20100816

mas, na verdade, sei lá o que penso eu do mundo

Receio que seja a má literatura a encher de sentimentos falsos a cabeça de homens e mulheres. As tragédias artificiais da humanidade derivam, em grande parte, dos conselhos mentirosos de certos livros, que acabam por influenciar a vida das pessoas. A autocomiseração, as mentiras patéticas, as artificiosas complicações são, na maioria dos casos, consequência dos ensinamentos de uma literatura falsa e ignorante, ou, simplesmente, desonesta. Recomenda-se, em algumas linhas de jornal, um romance enganoso e, na página seguinte, nas notícias, já podemos ler os seus efeitos, a tragédia da jovem costureira que bebeu lixívia, porque foi abandonada pelo marceneiro (...) Perguntas-me o que desprezo, acima de tudo? A literatura? O trágico mal-entendido chamado amor? Ou, simplesmente, o género humano?... É uma pergunta difícil. Não desprezo nada, nem ninguém, que não tenho esse direito. Mas, no tempo que ainda me resta, quero abandonar-me ainda a uma paixão. A paixão pela verdade. Não tolero que me mintam mais, seja a literatura, sejam as mulheres, e, acima de tudo, não tolero mentir a mim mesmo.
Sándor Márai, in A Mulher Certa

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