20090129

the unforgiven - john huston


Como resistir, por meia dúzia de euros, à oportunidade de ver a sempre frágil Audrey Hepburn, a mais coquete das actrizes da velha Hollywood, tantas vezes boneca de luxo e princesa entre plebeus, num filme de John Huston filmado em áridas terras rodeadas de índios? Tendo ainda, como bónus, a própria Hepburn como indígena? A mesma que surgia sempre vestida com as últimas colecções, fatos elegantes desenhados pelos melhores estilistas e dona de uma pronúncia citadina e chique bem vincada, apanhada algures entre os bairros londrinos mais burgueses e a Quinta Avenida em Nova Iorque, onde cada palavra terminava como se fossem bolhas do melhor champagne a rebentar? Muitos talvez resistissem, eu não consegui e trouxe comigo The Unforgiven (O Passado Não Perdoa) para casa.

O filme é de 1960 e não pude deixar de me lembrar que no ano seguinte Huston estaria a filmar o magnífico, mágico e atribulado The Misfits (Os Inadaptados), e Hepburn ficaria para a história do cinema no filme de Blake Edwards Breakfast At Tiffany’s (por cá conhecido como Boneca de Luxo).

Não será obra do acaso que este The Unforgiven seja um filme praticamente esquecido na filmografia de John Huston e que, hoje em dia, ao falar-se deste nome, todos julguem estarmos a falar de um filme de Clint Eastwood. Este The Unforgiven parece um negativo do filme The Searchers - A Deasaparecida, que John Ford realizou quatro anos antes. Onde num são os brancos a roubar uma criança, no outro a situação é inversa. E até os resultados se encontram em campos opostos.

Com uma primeira hora narrativamente atabalhoada e dramaticamente cambaleante, parecendo bastas vezes perdido, sem direcção e arrastando-se para lado nenhum, o filme não ficou para a história nem merecia ficar. No entanto, há momentos verdadeiramente interessantes, como aquele em que à magia das flautas é colocado um piano em confronto. Tudo isto under a strange light. Nem noite, nem dia. Um limbo de tempo em que tudo é permitido. Naquela hora em que os anjos dão lugar aos demónios que se seguem. Para uma longa noite que todos, no entanto, sabemos de antemão como irá terminar. Tal e qual este filme, também ele um limbo. Também ele algo que não chega nunca a ser o que parece ou pretende ser. Também ele dividido entre abordar a questão da intolerância racial ou do incesto e nunca aprofundando nenhuma das hipóteses. Também ele feito num momento de transição, entre a banalidade do agora e a genialidade que viria a seguir.

2/5

rewolf - lonely waters


Está ainda bem fresco este "Lonely Water", EP de estreia de um jovem anónimo britânico de 21 anos. Gravado entre os últimos dias de 2008 e primeiros deste ano, “Lonely Water” está disponível para download gratuito desde o início desta semana. Música que o próprio Rewolf diz ser influenciada por artistas como Animal Collective ou Groupie, mas a que eu acrescentaria ainda coisas tão díspares (ou talvez não) como Syd Barret, Bark Psychosis, Atlas Sound, Bon Iver, The For Carnation, e grande parte das bandas etiquetadas como shoegazers que povoaram a década de 90. Deixo agora o próprio falar por si:
"Looking to meet the area inbetween organic and electronic, Rewolf is as inspired by early Detroit Techno as he is by new artists such as Grouper and Animal Collective. After pursuing other forms of electronic music for the past 3-4 years I returned to using only my voice, an acoustic guitar and an old version of cubase. One of my goals is to record music that doesn’t sound like its been recorded on a computer, to find the space in between sounds that make it organic and natural."

8.0/10

His Space
Take it

falta uma semana para... mogwai


Há oito dias, na Malásia, foi assim que tudo começou. Falta uma semana para descobrir como será em Lisboa. Antes, a abrir as hostilidades, estarão os também escoceses Errors.



Mogwai - The Precipice (Live in Kuala Lumpur - 21.01.09)


20090127

iran - coming soon

Os Iran são mais uma banda proveniente de Brooklyn, que editam, em Fevereiro, "Dissolve", o seu terceiro disco. Compostos por membros dos TV On The Radio, The Mendoza Line e Grand Mal, a melhor descrição do seu som é feita pelos próprios:

"Iran take ultra catchy pop, and drag it through the detritus of lo-fi noise rock, picking up an ungodly assortment of buzz and blur and scuzz. Imagine a Pavement record on Siltbreeze. Or Sebadoh, if Lou Barlow was a jaded fuck instead of a sappy romantic. Or old Smog covering Skullflower. Or Harry Pussy playing Built To Spill. A beautifully cacophonous mess. Iran play damaged folk music, bombarded on all sides by a wild assortment of squeals and shrieks, static and hiss, and speaker clogging grit. Huge and slowly shifting, dronescapes that evolve into perfect little pop songs and then explode into jagged shards of high end skree. Iran are psychedelic and textural and noisey and totally catchy. Add an unhealthy obsession with Brian Wilson, Roman Polanski, indie rock, and Norwegian black metal, a handful of disasterously deafening live shows, and a charmingly fractured obstinance, and you've got Iran."

harlem shakes - technicolor health



Com saudades dos Clap Your Hands Say Yeah? Sim?! Então há uma má notícia e uma boa notícia. Despachemos já a má. Os Clap Your Hands Say Yeah vão dar um concerto no próximo dia 13 de Fevereiro, na Brooklyn Academy of Music, e depois disso vão parar. Para sempre? Ninguém sabe ao certo. Mas eu disse que havia uma boa notícia, certo?

De Brooklyn (que se passa por aqueles lados nestes últimos anos para surgirem de lá tantas e tão boas bandas?) chega este ano o disco de estreia dos Harlem Shakes. Quem aprecie a música dos Clap Your Hands Say Yeah irá certamente gostar deste “Technicolor Health”. Também se consegue ouvir por lá sonoridades a fazer lembrar Vampire Weekend ou Strokes, mas tudo temperado numa pop que mais parece proveniente da Suécia (Shout Out Louds ou Lacrosse, por exemplo). Contando com as colaborações de Stuar Bogie (TV On The Radio), Jon Natchez (Beirut) e Kelly Pratt (Arcade Fire), este “Technicolor Health” traz consigo aquela que é, até ao momento, a grande canção de 2009, de seu nome “Strictly Games”.

8.2/10

Their Space

20090126

welcome party