20090401

gran torino - clint eastwood

Já passou mais de uma semana desde que vi Gran Torino e ainda hoje penso em Walt Kowalski, a última personagem encarnada por Clint Eastwood no último filme por si dirigido. Começando pelo que deveria vir no final do texto: este ano dificilmente surgirá melhor filme nas salas de cinema. Dito isto, resta realçar a forma como Eastwood consegue, com este filme, atingir a perfeição na arte de narrar uma história.

Parecem ser cada vez mais os filmes em que, terminado o filme, pouco ou nada sabemos das personagens que acabámos de ver. E muitas das vezes, essas mesmas personagens passam todo o filme a falar de si próprias. Over and over again. Eastwood, pelo contrário, consegue mostrar-nos neste Gran Torino, em menos de duas horas, toda a vida de Kowalski, personagem de poucas palavras. E quando falo aqui de toda a vida, não me refiro apenas a passado e presente numa perspectiva temporal. Toda a vida inclui sentimentos e pensamentos. Tudo aquilo que distingue uma pessoa de qualquer outra. E isto tudo sem qualquer recurso a flashbacks ou preguiçosos monólogos descritivos. O truque, é sabido de muitos, mas poucos são aqueles que o conseguem praticar. Conhecer ao pormenor as personagens e saber muito bem aquilo que se quer contar. Ou, no minímo, ter algo para contar. E Eastwood tem. Quase sempre o mesmo (a justiça e todas as suas derivações e implicações, filosóficas ou sociológicas) e cada vez com maior urgência, precisão e engenho.

Mas quaisquer palavras por mim escolhidas, ou frases por mim construidas, serão sempre insuficientes perante uma obra desta grandeza. Só me resta acrescentar humildemente que, se o cinema (ainda) me apaixona, é por filmes como este. E não consigo deixar de repetir: este ano muito dificilmente surgirá nas salas de cinema um filme melhor que este Gran Torino.

5/5

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