20090501

o amor eterno

photo by ElifKarakoc

E agora que as mãos da incrédula 
rapariga te empurram para a saída, 
onde irá chover, de acordo com 
a cor do céu, não resistas. Na rua, 
onde os ventos se cruzam na esquina, 
os que sopram, do norte, de colinas 
manchadas pelo inverno, e os que 
nascem do rio, trazendo a impressão 
húmida do litoral, acende um cigarro, 
para que o calor do lume te reconforte 
as mãos, avança pelo passeio, enquanto 
o frio te deixar, e ouve o canto da água 
por baixo de terra: correntes 
no limite entre o gelo 
e o fogo, uma evaporação de humores, 
como se as almas lutassem em busca de 
saída, e, no fumo de uma memória 
de mesa antiga, tu e essa que amaste, 
trocando as frases matinais do re- 
encontro. Vidros embaciados pelas 
lágrimas da ruptura, perguntas sem 
resposta, a casa de luzes 
apagadas, como se estivesse vazia - e como 
se não soubesses que os destinos se decidem 
por cima de nós, onde em cada instante 
um deus cansado nos desfaz as inúteis 
promessas de eternidade. 

Nuno Júdice, in "A Fonte da Vida"


1 comment:

  1. :D

    Isto diz-me particularmente muito. A comecar pela escolha do autor, ao dia em que foi publicado. Mas nao foi dedicado a mim, por isso abstenho-me de mais palavras.

    Bonito.

    Beijinhos

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Comentários