Anos 50. Estados Unidos da América. No auge do american way of life e do american dream, ou a tentativa desesperada de recuperar o tempo perdido e sarar rapidamente as feridas deixadas abertas pela recente Segunda Guerra Mundial.
O casal Titanic (Leonardo DiCaprio e Kate Winslet) sobrevive ao naufrágio e decide começar uma vida repleta de promessas de amor eterno, e felicidade sem limites, num subúrbio igual a tantos outros. Uma espécie de paraíso franchisado. Mas o desesperante vazio dos dias (Hopeless emptiness. Now you've said it. Plenty of people are onto the emptiness, but it takes real guts to see the hopelessness. Como diz a louca personagem interpretada por Michael Shannon.) surge aos poucos como obstáculo ainda mais dificil de ultrapassar que um qualquer naufrágio no meio do Atlântico. E se falo aqui em Titanic é por achar que não terá sido de forma inocente que Sam Mendes escolheu esta dupla de actores para representarem um casal em vertiginosa queda livre.
Depois de uma auspiciosa estreia nas lides cinematográficas com American Beauty, Sam Mendes afastou-se dos subúrbios americanos nos seus dois filmes seguintes, com resultados medianos (Road To Perdition) ou bem perto do desastre (Jarhead). Este Revolutionary Road marca o regresso do realizador britânico ao seu micro-cosmos preferido e os resultados estão à vista. Ainda que a sua forma elegante, controlada e quase cirurgíca de filmar não permita ao filme atingir os picos dramáticos a que este chegaria se tivesse sido filmado por um Douglas Sirk, Mendes consegue construir um filme bastante aceitável onde se destaca a sua fabulosa direcção de actores, ou não fosse ele, acima de tudo um encenador. Um conselho, ou melhor, um desejo… que ele se mantenha pelos subúrbios por muitos e bons anos.
3/5
O Road to Perdition tem o infindo esplendor da fotografia Hopperiana. Já American Beauty é o designado "shake vendível" do Ice Storm com o Happiness... também neles se evidenciando bem mais a direcção de actores que qualquer outra coisa. Mas isto sou eu, que de cinema não percebo nada.
ReplyDeleteQuanto a Revolutionary Road, é bem capaz de se enquadrar melhor nas 3,5* em 5*. Porque há nele demasiada angústia e sonhos estiolados nas arestas da realidade perene para que não mereça um pouco mais de generosidade. A vida "estática, regrada e revista" não se compadece seja lá com o que for. E o dito amor não é excepção. Pelo menos quando se queira inseri-lo nos cânones do status quo. Vale pela coragem de Sam Mendes (tanta como admitir a hoplessness) em abordar o tema.
Ritinha: Eu gosto do senhor Mendes. Mesmo nos filmes onde falha. Só pela sua direcção de actores já vale a pena ver um filme seu. E depois existe a elegância do seu estilo. Pode nem sempre acertar na 'mouche' mas também nunca erra desastrosamente. E isso, nos dias de hoje, já não é pouco.
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