20090205

waltz with bashir - ari folman

Habitualmente associamos o cinema de animação a entretenimento e diversão. Coisa para putos que os graúdos vêm por escape ou nostalgia. Mas tudo isso parece estar a mudar. No ano passado surgiu Persepolis que, embora mantendo o humor habitual neste tipo de filme, usava a animação para mostrar as memórias de uma jovem iraniana que cresceu durante a Revolução Islâmica naquele país.

No primeiro dia deste ano, chegou às salas portuguesas Valsa com Bashir, uma espécie de versão masculina de Persepolis, menos humorada e mais alucinada, com um olhar que parte do interior para o exterior, e que se aproxima, nalguns momentos, desse filme referência para todo o cinema que decorra num palco de guerra que é Apocalipse Now.

O realizador Ari Folman decide partir ao encontro de antigos companheiros de guerra para perceber o que realmente aconteceu aquando da ofensiva militar que Israel levou a cabo no Líbano nos anos 80, e que resultou no massacre de centenas (milhares?) de civis palestinianos. Usando a animação como veículo ilustrador dessas memórias até ali esquecidas, Forman consegue ir construíndo a totalidade do puzzle sem, no entanto, conseguir encontrar respostas para todas as suas perguntas e dúvidas.

Mais que um filme de animação, Valsa com Bashir é na verdade um documentário, onde a troca de imagens reais por desenhos não o torna por isso menos real. Mais do que documentar com elevado grau de precisão aquilo que aconteceu, Forman procura descobrir a forma como tais acontecimentos foram vistos, interpretados e guardados por todos aqueles que participaram nesse momento da recente história de Israel. Mais interessado em interpretar que documentar, Valsa com Bashir é um inteligente olhar sobre a estupidez humana, e a sua incapacidade para se aperceber, a tempo, dos seus próprios erros. Inteligentemente, Forman não parece preocupado em distribuir culpas por esses erros do passado, limitando-se a registar as memórias de quem lá esteve. A forma como cada um as guardou. A culpa, essa, estará ou não implicita no discurso de cada um.  

3,5/5

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