20090331

errata: woods

Ao longo duma semana andei entusiasmado com a ideia de poder ver ao vivo a banda que gravou um dos discos que mais ouvi durante o ano passado. Mas afinal, os Woods que vão estar quinta-feira no Maxime parece que são outros bem diferentes. Deixo um vídeo que poderá servir para melhor se perceber aquilo que eu ansiava poder ver ao vivo esta semana. Não quero imaginar a desilusão daqueles que lá irão parar por engano.

 

20090330

that ghost - young fridays

Cada vez menos são necessárias editoras discográficas para que um artista se consiga fazer ouvir. Mas, ultimamente, já nem a impossibilidade monetária de passar por um estúdio serve de desculpa para não se gravar um disco em/com boas condições. Basta a criatividade, a curiosidade e a vontade. Tudo o mais está ao alcance de qualquer um. É esse o caso do jovem Ryan Scmale que, aos 18 anos, já leva quatro discos editados com o seu projecto That Ghost. Importante é não confundir este lado caseiro com um som descuidado ou simplista. Já não se fala aqui do DIY em registo low-fi praticado por quem optava por tal solução mais por incapacidade de dominar os instrumentos ao seu dispor, do que por uma questão estética.

O mais recente Young Fridays, do ano passado, é dos discos mais frescos e viciantes que se pode ouvir por estes dias e traz consigo canções como Top Shelf, Bedside ou Friends In Quotations que mereceriam fazer parte das listas de melhores músicas de qualquer ano. As influências vão de Jesus and Mary Chain a You La Tengo passando pelos Galaxie 500. Um disco para colocar ao lado dos discos de Atlas Sound ou Lotus Plaza e para ouvir em modo repeat.

8.8/10

20090327

falta um dia para... messer chups

Vindos de um jazigo de São Petersburgo, directamente para um cabaret em Lisboa, os russos Messer Chups mostram amanhã no Maxime a sua música surf para noites de lua cheia, em mais uma noite Wonderland.

20090323

coeur de pirate

Assinando com o nome Coeur de Pirate, Béatrice Martin, de apenas 18 anos, oferece-nos no seu disco de estreia uma dúzia de melodiosas pérolas pop de influência francófona. Tudo em pouco mais de meia-hora. O tempo necessário para uma paixão à primeira vista. A partir de agora, Carla Brunni já se pode dedicar por inteiro a representar o papel de primeira-dama. Está encontrada uma herdeira para os seus dotes musicais.

20090321

palavras: três


O certo é que, hoje em dia, são aqueles a quem não falta nada, os que mais roubam.

in As Mulheres No Parlamento, de Aristófanes (446 A.C. - 386 A.C.)

20090320

filosofia em yale

Através da Academic Earth já é possível assistir a cursos de universidades como Harvard, Yale ou Princenton. Eu decidi começar a frequentar um curso de Filosofia, ministrado por Shelly Kagan, dedicado ao tema da morte.

Lecture 1 of 26 - Philosophy of Life and Death

20090319

twitter

Bairros inteiros vigiados por câmaras de vigilância?! Chips em todos os automóveis?! Cartão de Cidadão?! O Estado como Big Brother que controla todos os nossos passos?! Falta de privacidade?! Who cares! Agora percebo por que razão ninguém se revolta por viver num mundo cada vez mais controlado pelo Estado.


che estreia hoje

Che - O Argentino, de Steven Soderbergh, chega hoje às salas de cinema portuguesas. A personagem retratada é polémica e as dificuldades de promoção do filme já começaram.


fab channel (1999-2009)

Era um dos melhores sites para ver concertos online. Era...

buñuel em bd

Em 1932, Luis Buñuel pegou no dinheiro ganho na lotaria pelo seu amigo Ramón Acín e mudou-se de armas e bagagem para Las Hurdes, local de gente pobre e desconfiada, e aí passou dois meses a documentar os hábitos de tais gentes. O resultado final foi Las Hurdes, tierra sin pan. A rodagem, cheia de peripécias, é agora transformada em banda-desenhada por Fermín Sólis no livro Buñuel en el laberinto de las tortugas. Mais informação aqui.

20090318

stellet licht - carlos reygadas

Para o mexicano Carlos Reygadas parecem existir apenas duas formas de filmar: cada plano tem de ser uma obra de arte ou um desafio. Ou ambas as coisas. Mas nunca menos do que isso. O resultado final, mesmo para quem não aprecie o conjunto, não deixará, no entanto, ninguém indiferente. Reygadas tem um estilo único e cada filme seu é uma porta aberta para entrar no seu universo pessoal onde, embora alguns se possam aí sentir desconfortáveis ou até mesmo aborrecidos, haverá sempre imagens suficientemente fortes para ficarem na memória de quem as veja. Por muito e muito tempo.

História de um amor proibido, Luz Silenciosa pode ser descrito como um Paris, Texas filmado na América do Sul por um Albert Serra com orçamento para filmar em condições, com actores dirigidos por Ingmar Bergman e uma ressurreição final digna de um filme de Dreyer. Resumindo, este é um daqueles filmes que se ama… ou não. Mas sem direito a meios termos. 

4/5

20090317

radiohead no brasil

Os Radiohead vão tocar no Brasil este fim-de-semana. A bilheteira para o concerto em São Paulo, na Chácara do Jockey, é como se vê na foto. Nem quero imaginar o local por dentro. Mais pormenores aqui.

20090316

faltam cinco dias para... gallon drunk

Há precisamente um ano, na Eslovénia, foi assim. Faltam cinco dias para ver como será em Lisboa. O concerto terá lugar no bar Gasoil, Rua da Madalena, numa noite Wonderland.

20090313

podcast: bitsounds

Um podcast para quem não confunde melancolia com tristeza ou aborrecimento. Ideal para finais de tarde com o sol a desaparecer em pano de fundo. Perfeito para viagens sem destino com as nuvens como mapa. Nomes como Hope Sandoval, Luna, Wilco ou Micah P. Hinson são apenas alguns dos artistas que se podem ouvir no mais recente bitsounds. Todas as semanas... uma nova viagem.


photo: "Sun Will Shine" by Zito C

friday the 13th... again


Be careful out there today. And please don't go near Joaquin Phoenix.

20090312

joe gideon and the shark - harum scarum

My father told me that the world was flat,

And I was happy in my sweet pancake world,

Was my fathers child, never questioned what daddy told

But the seed of doubt got in me and it grew into a tree 

Its doubting branches got a hold of me.

in Civilisation by Joe Gideon and the Shark


1985 – Kathy Ray was a backing singer for the Eurythmics at Live Aid.

1992 – Viva Seifert (aka The Shark) representend UK in rhythmic gymnastics at the Barcelona Olympics and brother Joe Gideon was living in Bolivia.

1999 / 2006 – They worked together in the four-piece Bikini Atoll.

Summer 2006 - They formed a family band and spent the summer getting drunk in a barn writing songs on their 8 track recorder.

2008 - They've been invited to play around Europe with Nick Cave & The Bad Seeds, Archie Bronson Outfit, The Duke Spirit, Scout Niblett and Michael Gira to name but a few.

2009 – Their debut Harum Scarum is set for release on March 9th. The album ranges from souped-up 21st century rock’n’roll of DOL and the power-duo blues of the title track to songs built around spartan piano lines. Gideon’s lyrics are acutely observed, droll, sometimes touching, and he switches between narration and melody. Kathy Ray is the title of a song in Harum Scarum that reminds me of Serge Gainsbourg’s Ballade de Melody Nelson.

7.8/10  

introducing: micachu and the shapes


INTRODUCING #002
Micachu And The Shapes - Lips

20090311

"who spices you up?"

Em resposta a um comment aqui deixado anteriormente por AEnima. Dia 17 de Abril, Plano B, Porto. O novo disco chama-se Brash & Vulgar e merece ser dançado.



the wrestler - darren aronofsky

Enquanto realizadores com mais idade, como Francis Ford Coppolla (69 anos) ou David Fincher (46 anos), utilizaram maiores ou menores doses de fantasia para se debruçarem sobre a velhice nos seus últimos filmes, com Youth Without Youth e The Curious Case of Benjamin Button respectivamente, Darren Aronofsky (39 anos), em The Wrestler, opta por um olhar mais simples, honesto e sem necessidade de máscaras ou fantasias de quaisquer espécie.

A simplicidade é sempre o mais dificil de atingir em qualquer arte. Ser directo, sem rodriguinhos ou muletas. Olhar sobre o essencial o mais despido e cru possível, atingindo assim o cerne daquilo que se quer mostrar. Encurtar caminho e quebrar o máximo de barreiras entre o sentimento das personagens e a emoção a provocar no espectador. Para isso, é preciso uma escolha extremamente criteriosa daquilo que se vai mostrar. Sem informação supérflua, ou gratuita, que nada acrescenta para além de uma distracção enganadora. Nesse aspecto, The Wrestler é uma lição. E uma surpresa que nenhum dos filmes anteriores de Aronofski fazia prever. Talvez para muitos dos fãs deste realizador, que adoraram Pi ou Requiem For A Dream, este seja um filme demasiado vazio, por não conter praticamente nenhum dos ingredientes que tornavam únicos esses seus filmes anteriores: uma montagem (hip hop editing?!) que muito devia a uma cultura aprendida por muitas horas de visionamento da antiga MTV; ou socorrendo-se a teorias rebuscadas, no caso de Pi, que faziam qualquer um parecer mais inteligente apenas pelo facto de as estar a ouvir, mesmo que delas não conseguisse aprender nada. No entanto, este terá sido certamente o filme que Darren Aronofsky mais dificuldades teve em realizar. Mas é também o seu filme mais desarmante. Infelizmente, já quase não se fazem filmes assim. Felizmente, existe este.

4,5/5 

20090309

bosque brown - baby

1. Por detrás do nome Bosque Brown esconde-se Mara Lee Miller.

2. Faz hoje uma semana que o seu disco de estreia está nas lojas.

3. Por esta altura já todos deveriam andar a ouvir esse disco.

4. O disco chama-se Baby.

5. É um disco aconselhado a quem consiga perceber as semelhanças existentes entre uma mulher com sentimentos e uma barra de dinamite junto a um fósforo aceso.

6. Ideal para quem tenha em casa um qualquer disco de Cat Power, CocoRosie, El Perro Del Mar ou Beach House. Perfeito para quem não tenha.

7. Esta é música para quem gosta de ver cavalos à solta, assistir ao pôr-do-sol, observar a lua entre nuvens…

8. Por esta altura já deveria estar a ouvir o disco.

8.3/10

20090306

freak in a storm tv: sunset television

Está desde ontem disponível o terceiro episódio da Sunset Television. Ou como a televisão poderia ser (bem mais) interessante. Não é aconselhado o consumo de drogas antes ou durante o visionamento deste programa. 



palavras: dois


Nunca pudera prender-se definitivamente a um amor, a um prazer, nunca fora realmente infeliz; sempre lhe parecera estar algures, não ter ainda nascido completamente. Esperava. E durante esse tempo, devagar, sub-repticiamente, os anos tinham chegado, e tinham-no envolvido.
...
Eu sabia que cada um tinha a sua vida, ignorava a existência da minha.
...
Estou liquidado. Esvaziei-me, esterilizei-me para ser apenas uma espera. Agora estou vazio. Mas já não espero mais nada.
...
Bocejei, li, fiz amor.
...
Levei uma vida desdentada. Nunca mordi; esperava, guardava-me para mais tarde - e acabo de perceber que já não tenho dentes. Que fazer? Quebrar a concha? É fácil de dizer. E aliás o que me restaria? Uma pequena massa viscosa que se arrastaria na poeira deixando atrás de si uma esteira brilhante.
...
É preciso ter coragem de fazer como toda a gente para não ser como ninguém.

in A Idade da Razão, de Jean-Paul Sartre

20090305

la paura - roberto rossellini

Não é dos melhores filmes de Rossellini mas, ainda assim, La Paura – O Medo, tem nele duas cenas magistrais que, só por si, merecem o visionamento do filme. Quem ainda não o tenha visto e pretenda fazê-lo nos próximos tempos, será melhor não ler o texto que se segue.

Numa primeira cena, mais óbvia e com um subtexto facilmente entendido por todos, o professor Albert Wagner (Mathias Wieman), marido de Irene (Ingrid Bergman), repreende a filha de ambos por esta lhes ter mentido, ameaçando por isso castigá-la. Enquanto tudo isto acontece entre pai e filha, é no entanto para Irene que olhamos, por sabermos que também ela mente, mantendo uma relação extra-conjugal e sentindo por isso todas aquelas palavras como se estas lhe fossem dirigidas a ela. No fim, procurando perdão para si própria, mas parecendo fazê-lo pela filha, confronta o marido considerando o castigo desnecessário após a filha ter assumido que errou. A tensão para o restante filme fica estabelecida com a resposta do marido, que diz não existir perdão para quem só assuma uma mentira quando já não tem outra saída.

A segunda cena, no entanto, levantou-me algumas dúvidas aquando da primeira vez que vi o filme. Como cientista, o marido de Irene faz várias experiências com animais no seu laboratório. Num desses momentos, Irene visita o marido e assiste a uma dessas experiências, onde tudo lhe é contando com bastante pormenor. As sensações provocadas no animal, em cada uma das fases dessa experiência, assemelham-se a muitas das sensações que Irene diz sentir ao longo do filme e, só por isso, a cena já teria o seu valor. Mas, num segundo visionamento, detendo o espectador a informação que ao longo de todo o filme Irene é uma cobaia do seu próprio marido, toda a cena ganha uma força e profundidade ainda maior.

O que durante algum tempo me era difícil perceber era o motivo pelo qual Rossellini teria optado por não tirar o máximo partido dessa cena, colocando-a num momento do filme em que o espectador não sabe ainda desse papel de cobaia que Irene está a representar. Uma informação que faz toda a diferença na forma como o espectador sente e vê essa cena. A melhor explicação que encontrei para essa opção de Rossellini foi a de que, neste filme, não é apenas Irene a cobaia. Nós, os espectadores, acabamos, sem nos aperceber, por também sermos cobaias da experiência de um realizador que quase até ao fim nos esconde muito, quando nos parecia mostrar tudo.

3/5

20090303

shelby sifers

No site da editora Oh! Map Records consta a seguinte descrição de Shelby Sifers “shelby is an amazingly spirited and talented young woman who records folk-pop songs on a four track recorder in her bedroom with her guitar, keyboards, banjo, and melodica. her songs reflect her overall upbeat nature with subject matter such as how much beautiful the world is, imaginary prostitutes, cups of coffee, and planting trees”.

Em disco, a princípio, até poderá ser confundida com uma versão de Joanna Newsom sem harpa. No entanto, e embora não seja uma má primeira impressão para se ter, ultrapassada essa fase inicial, descobre-se uma voz única e merecedora de atenção. Com dois discos de originais editados até agora (Yeah And I’m In Love Too de 2005 e Run Around, Run Around de 2007), que estão disponíveis gratuitamente no site da The Collective Family, Shelby Sifers é mais uma daquelas artistas injustamente ignoradas, dona de um conjunto de canções merecedoras de serem conhecidas por uma imensa minoria.

No que diz respeito aos seus concertos, ao ouvir um concerto de Shelby Sifers é dificil resistir ao desejo de lá ter estado. O espírito desses mesmos concertos faz lembrar aquelas festas onde alguém começa a tocar timidamente qualquer coisa a um canto da sala, na altura em que já são mais as garrafas vazias espalhadas pelo chão, que as garrafas cheias ainda em cima da mesa, e que em poucos minutos consegue reunir todos em seu redor num entusiasmado coro, com cadeiras, copos ou qualquer outro objecto que esteja à mão a servir de percursão. Nesses seus concertos, Shelby Sifers é bem capaz de passar duma versão dos The Smiths para outra dos Backstreet Boys num piscar de olhos, com uma boa disposição tão presente quanto a sua guitarra e conseguindo ser tão contagiante quanto as suas melodias. No site da já referida The Collective Family estão também disponíveis dois desses concertos, que servem como complementos perfeitos aos seus maravilhosos discos.

sonic youth - the eternal

Promete ser um dos melhores discos deste ano, mas ainda faltam alguns meses até poder ser ouvido na íntegra pelo comum dos mortais. No entanto, e enquanto esse momento não chega, é já possível ficar com uma ideia daquilo que os Sonic Youth têm para nos oferecer 26 anos depois de Confusion Is Sex